Sinopse: Neste romance extraordinário, Paulo Coelho narra, com sagacidade e sutileza a corajosa luta de uma jovem contra (e por) sua vida. Em uma história em que tudo parecia estar no caminho certo, o autor traça o destino de Veronika com infinito cuidado, tecendo o mistério de sua decisão de tirar a própria vida e cometer suicídio. No entanto, ela não morre: acorda num hospital psiquiátrico com a perspectiva médica de ter, no máximo, apenas mais uma semana de vida. O que a protagonista passa a enfrentar, então, é um jogo de espera e um mundo estranho que a levam a reavaliar sua decisão. Nas palavras do próprio autor, a Veronika do livro é ele mesmo, internado por três vezes em hospitais psiquiátricos, de onde extraiu elementos para este relato contundente sobre aceitação e loucura.
Título: Veronika Decide Morrer (Skoob)
Autor: Paulo Coelho
Gênero: Romance / Espiritualidade
Editora: Paralela
Páginas: 240
Onde comprar: Amazon / Submarino
Classificação: 10 (Excelente!)
Livro cedido em parceria com a editora.
“Enquanto esperava a morte, Veronika começou a ler sobre informática, assunto pelo qual não tinha o mínimo interesse – e isso combinara com tudo o que fizera a vida inteira, sempre procurando o que era mais fácil ou o que estava ao alcance da mão.” (p. 10)
Em 11 de novembro de 1997, aos 24 anos, Veronika decide pôr fim à sua vida, por meio da ingestão de uma alta dose de comprimidos para dormir. As razões são duas: tudo na sua vida é igual, o mundo está completamente errado e ela não poderia fazer nada para melhorá-lo.
“Acreditava ser uma pessoa absolutamente normal. Sua decisão de morrer devia-se a duas razões muito simples, e tinha certeza de que, se deixasse um bilhete explicando, muita gente ia concordar com ela.
A primeira razão: tudo em sua vida era igual, e – uma vez passada a juventude – a tendência era de que tudo passasse a decair, a velhice começasse a deixar marcas irreversíveis, as doenças chegassem, os amigos partissem. Enfim, continuar vivendo não acrescentava nada; ao contrário, as possibilidades de sofrimento aumentavam muito.
A segunda razão era mais filosófica: Veronika lia jornais, assistia à TV e estava a par do que se passava no mundo. Tudo estava errado, e ela não tinha como consertar aquela situação – o que lhe dava uma sensação de inutilidade total.” (p. 16)
Contudo, Veronika não morre. Ao acordar, descobre que está internada no hospital psiquiátrico Villete, mas as previsões não são boas: o excesso de calmantes havia prejudicado seu coração, que pararia de bater em no máximo uma semana.
O que, à princípio, foi uma boa notícia para Veronika, logo se transforma em algo inquietante. Ela não está pronta para morrer.
Simultaneamente em Villete, Dr. Igor estuda uma substância que está ligada à depressão, chamada de Amargura. Suas descobertas pretendem revolucionar a psicologia.
“O grande problema do envenenamento por Amargura era que as paixões – ódio, amor, desespero, entusiasmo, curiosidade – também não se manifestavam mais. Depois de algum tempo, já não restava ao amargo qualquer desejo. Não tinham vontade nem de viver, nem de morrer, este era o problema.” (p. 102)
Não sei como pude demorar tanto tempo para ler Veronika decide morrer, seu lançamento foi em 1998! Simplesmente me apaixonei pela história, pela forma como a loucura e a sociedade são descritas, por haver tantos pontos parecidos com a minha visão de vida.
A narrativa de Paulo Coelho é gostosa e envolvente, de leitura fácil e rápida, é um livro que viramos página atrás de página, querendo descobrir mais sobre o universo de Villete e o que acontecerá com Veronika.
Eu diria que a Veronika é como a maioria das pessoas que conhecemos: alguém que já está tão acostumada à rotina da sua vida e se sente tão presa à tudo que possui uma visão triste e monótona de tudo, tanto que decide morrer aos 24 anos – aquela fase chata na qual enfrentamos uma (das muitas) crises existenciais.
“Veronika decidira morrer naquela tarde bonita em Liubliana, com músicos bolivianos tocando na praça, com um jovem passando diante da sua janela, e estava contente com o que seus olhos viam e seus ouvidos escutavam. Mais contente ainda estava por não ter que ficar vendo aquelas mesmas coisas por mais trinta, quarenta ou cinquenta anos – pois iam perder toda a sua originalidade e se transformar na tragédia de uma vida na qual tudo se repete e o dia anterior é sempre igual ao seguinte.” (p. 19)
Um dos pontos mais marcantes da trama é a mudança que ocorre na garota, justamente quando a morte está decretada. Em um local pouco comum, ela consegue enxergar o mundo de outra forma, percebendo que a maneira como a sociedade se comporta é muito mais doente do que as pessoas que estão em Villete.
“Durante toda a sua vida, Veronika percebera que um imenso número de pessoas que ela conhecia comentavam os horrores da vida alheia como se estivessem muito preocupadas em ajudar – mas, na verdade, se compraziam com o sofrimento dos outros, porque isso as fazia crer que eram felizes, a vida tinha sido generosa com elas. Ela detestava esse tipo de gente: não ia dar àquele rapaz nenhuma chance de se aproveitar do seu estado para ocultar as suas próprias frustrações.” (p. 38)
Veronika tem o maior peso na trama, porém, há também outros personagens interessantes que tem algo a nos dizer, ou uma história diferente a contar, como a advogada Mari e o esquizofrênico Eduard, ambos internados em Villete.
O hospital psiquiátrico como cenário da obra é muito marcante, justamente o local onde as pessoas são apenas consideradas loucas é o que mais tem a nos ensinar sobre a vida, e o que exatamente é esse conceito de loucura.
A pesquisa sobre a substância Amargura, ligada à problemas psicológicos, acrescenta uma pitada extra de originalidade à obra, nos fazendo refletir se nós mesmos não poderíamos estar infectados com ela.
"Certas pessoas, no afã de querer construir um mundo em que nenhuma ameaça externa possa penetrar, aumentam exageradamente suas defesas contra o exterior – gente estranha, novos lugares, experiências diferentes – e deixam o interior desguarnecido. É a partir daí que a Amargura começa a causar danos irreversíveis." (p. 101)
Gostei de muitos trechos, mas separei meus preferidos – que foram muitos! – pois são frases que, ao meu ver, todas as pessoas deveriam ler. Acho que todos deveriam experimentar ver o mundo com outros olhos, enxergar além desta casca cheia de ódio e preconceito que vivemos atualmente, além do ato mecânico que, infelizmente, contagiou a vida das pessoas: como máquinas, fazemos a mesma coisa todos os dias, além da necessidade de aceitação dos outros, afinal é muito difícil ser nós mesmos quando o resto do mundo não aceita o que é diferente, ou o que fuja de um padrão.
“Muito bem, aqui estou eu, com as horas literalmente contadas, dando importância aos comentários de gente que nunca vi e que em breve nunca mais verei. E eu sofro, me irrito, quero atacar e defender. Para que perder tempo com isso?” (p. 53)
Outro ponto forte é que a obra foi inspirada na própria história do Paulo Coelho, que narra alguns acontecimentos da sua vida em alguns pontos do livro, no qual seu amor pela arte simplesmente foi considerado loucura – o que nos faz pensar sobre a forma como a sociedade julgava e ainda julga, pois a obra conserva-se atual, mesmo sendo publicada pela primeira vez há quase vinte anos.
“- O que faz uma pessoa detestar a si mesma?
- Talvez a covardia. Ou o eterno medo de estar errada, de não fazer o que os outros esperam.” (p. 76)
Esta nova edição está simplesmente maravilhosa, em um tom pink que eu amei, com uma arte linda e uma revisão impecável, não tem como não se apaixonar!
“[...] Deus estaria em cada instante, em cada grão de mostarda, no pedaço de nuvem que se mostra e se desfaz no momento seguinte. Deus estava ali e, mesmo assim, as pessoas acreditavam que era preciso continuar procurando, porque parecia simples demais aceitar que a vida é um ato de fé.” (p. 165)
Amanda!
ResponderExcluirJá tive oportunidade de ler esse livro e confesso que adoro os livros do Paulo Coelho.
Ele não é um escritor convencional, tem sua forma própria de mostrar o que por vezes não conseguimos ver tão claramente.
O livro é muito bom para mudarmos nossos paradigmas na vida.
Desejo um mês repleto de realizações e um final de semana de luz e paz!!
“O que mais me interessa saber, não é se falhaste mas se soubeste aceitar o desaire.” (Abraham Lincoln)
cheirinhos
Rudy
TOP COMENTARISTA novembro 3 livros, 3 ganhadores, participem!
Tá aí um livro dele que já vi muita coisa legal sendo falada e ver aqui agora me fez pensar numa professora que tive e era louca por esse livro. Ela indicou há muito tempo, mas acabei não conseguindo ler =/
ResponderExcluirÉ uma história muito boa pelo visto, forte e que faz refletir. Tem muita coisa ali pra pensar e é interessante ver que permanece atual tanto tempo depois do lançamento, não é mesmo? Legal também ver as coisas que podem ter a ver com o autor. Acho interessante quando um autor reflete algo da vida dele numa história, algum preconceito que sofreu ou coisa que passou e o marcou ou algo assim. Acaba passando mais pra gente também, fica uma leitura mais marcante e verdadeira, sei lá. Gosto dessa ideia. De aprender algo com a visão de um autor sobre determinado assunto.
É um livro que precisava ler alguma hora...