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quarta-feira, 6 de setembro de 2017

✓ Resenha: Garota em Pedaços - Kathleen Glasgow



Sinopse: Além de enfrentar anos de bullying na escola, Charlotte Davis perde o pai e a melhor amiga, precisando então lidar com essa dor e com as consequências do Transtorno do Controle do Impulso - um distúrbio que leva as pessoas a se automutilarem. "Viver não é fácil". Quando o plano de saúde de sua mãe suspende seu tratamento numa clínica psiquiátrica - para onde foi após se cortar até quase ficar sem vida -, Charlotte Davis troca a gelada Minneapolis pela ensolarada Tucson, no Arizona (EUA), na tentativa de superar seus medos e decepções. Apesar do esforço em acertar, nessa nova fase da vida ela acaba se envolvendo com uma série de tipos não muito inspiradores.
Cansada de se alimentar do sofrimento, a jovem se imbui de uma enorme força de vontade e decide viver e não mais sobreviver. Para fugir do círculo vicioso da dor, Charlotte usa seu talento para o desenho e foca em algo produtivo, embarcando de cabeça no mundo das artes. Esse é o caminho que ela traça em busca da cura para as feridas deixadas por suas perdas e os cortes profundos e reais que imprimiu em seu corpo.

Título: Garota em Pedaços (Skoob)
Autor: Kathleen Glasgow
Gênero: Young Adult
Editora: Planeta
Páginas: 384
Onde comprar: Amazon / Saraiva
Classificação: 9,9 (Excelente!)
Livro cedido em parceria com a editora. 





“Seguir em frente. Continuar a batalha. Estou ficando cansada de todo mundo pensar que é tão fácil viver. Não é. Nem um pouco.” (p. 270)

A história inicia com uma garota que não fala, em um hospital psiquiátrico. A garota foi internada após se cortar até quase morrer. O hospital está cheio de outras garotas que se cortam, e ela nos narra o que vê e como são essas pessoas.

“Não tem portas, não tem abajures, não tem vidro, não tem lâminas, só comida pastosa que se come com colher e café morno. Não tem como a gente se machucar aqui.” (p. 20)

As poucos descobrimos que trata-se de Charlotte, de 17 anos, e que algumas coisas de seu passado sumiram de sua memória. Instável, com frequentes ataques de raiva e mudez seletiva, passamos a ver o mundo aos olhos da solitária garota, que mantém uma relação amigável, mesmo que a menor possível, apenas com sua colega de quarto Louisa e sua médica apelidada de Garparzinho.

Algo de muito ruim aconteceu em seu passado, e as marcas encontram-se em sua pele, com cortes cicatrizando. Ela costumava desenhar antes de estar ali. Agora, sente que as palavras morrem em sua garganta, impedindo-a de dizer o que gostaria.

“Ela diz que quando alguém nos machuca ou nos faz sentir mal ou indigna ou imunda, em vez de dar o passo racional de aceitar que a pessoa é babaca ou maluca e que deve levar um tiro ou ser enforcada e que devemos ficar longe pra caralho dela, nós internalizamos a agressão e começamos a culpar e punir a nós mesmas.” (p. 36)

Após um tempo, sem ninguém para pagar por sua internação, Charlotte recebe alta e se encontra sozinha de novo: sem poder contar com a sua mãe e longe das pessoas que ela considerava seus amigos. Com medo dos fantasmas do passado, ela embarca em uma viagem para o Arizona, onde precisará arranjar comida e um lugar para morar por conta própria. Frente à tantas dificuldades e incertezas, Charlie volta a desenhar e encontra na arte um meio de dizer o que não consegue. Seus desenhos tornam-se o novo alívio para a dor emocional e a alma em chamas.

“Não sou boa em falar, não sou boa em fazer as palavras certas irem do cérebro até a boca e saírem por ela, mas sou boa nisso, nos meus desenhos e nas palavras que posso escrever.” (p. 346)

Garota em Pedaços é um livro profundo, impactante e necessário. A trama é dolorosa, sentimos todas as emoções de Charlie, desde seu passado sombrio à sua realidade duvidosa e seu futuro incerto.

A obra trás em si gatilhos emocionais, retrata com grande propriedade o TCI (Transtorno de Controle de Impulso) e pode afetar pessoas mais sensíveis/vulneráveis ao enredo.

A trama é bem abrangente, passando por várias fases da vida de Charlotte, não deixando nenhuma ponta solta. Conhecemos seu passado triste, sua estadia monótona, mas, de certa forma, segura, no hospital psiquiátrico, além de sermos bombardeados com todas as possibilidades do futuro de Charlie, mesmo que, à princípio, nenhuma pareça muito promissora.

“Evan sempre dizia que nós não podíamos ter medo do que não podíamos ver, mas sim do que estava bem à nossa frente, a olhos vistos” (p. 106)

A Charlie é uma personagem muito marcante. Tudo o que ela é reflete sua história triste, a falta do pai, a inexistência da mãe em sua vida, a presença de pouquíssimas pessoas que ela podia contar em seu cotidiano - e a dor quando até estas lhe são tiradas. Ela é mais que uma garota triste: é um passado ambulante marcado em sua pele, a falta de vontade de falar ou de relacionar com outras pessoas, a dificuldade enorme em lidar com o mundo e em estar viva, sem conseguir se encaixar.

Charlie é uma garota boa, mas coberta por tanta dor que praticamente não se lembra mais quem é. E, em meio à tanta merda, ela parece atrair pessoas com merdas ainda piores. Porém, mais do que isso, a leitura nos mostra que sempre há uma esperança. Sempre haverá com quem contar, mesmo que se abrir para as pessoas seja a coisa mais difícil do mundo. Alguém se importa com você, mas talvez não seja quem você espera que se importe.

“Tem a pessoa que os outros veem por fora e tem a pessoa por dentro. E mais no fundo, tem aquela outra pessoa, a enterrada, uma criatura nua e silenciosa, que não está acostumada com a luz.” (p. 264)

A narrativa de Kathleen Glasgow é muito envolvente e dinâmica, nos fazendo virar página atrás de página. Os cenários são muito bem explorados, passando desde o hospital psiquiátrico em Minneapolis ao deserto do Arizona, em Tucson. Muitos personagens são importantes na trama, mesmo que de início eles pareçam secundários. Temos Charlotte no centro de tudo, porém, mesmo que ela se sinta sozinha, aos poucos descobrimos que algumas pessoas por quem ela passa tornam-se essenciais na trama e na vida da garota.

É impossível terminar a leitura sem ter o coração tocado pelo enredo complexo e profundo. Vivenciamos um universo de solidão, drogas e dor, de lutar para sobreviver no modo mais básico da existência humana: lutar por comida, por um abrigo para dormir, por não ser violentada. Também conhecemos a realidade cruel das drogas, das ruas e até onde isso pode nos levar. Junto à tanta dor há uma garota quebrada, em pedaços, incapaz de lidar com o mundo e que encontra na dor física uma solução momentânea: os cortes na pele aliviam a dor emocional, mas também a levam para um caminho que pode não ter volta.

“− Todo mundo tem esse momento, eu acho, o momento em que uma coisa tão... crucial acontece e que parte seu ser em pedacinhos. E aí, você tem que parar. Por um tempo, para recolher os pedaços. E demora tanto, não para juntá-los novamente, mas para montá-los de um jeito novo. Não necessariamente melhor, mas de um jeito com o qual você possa viver até ter certeza de que essa peça devia ficar ali e aquela outra aqui.” (p. 339)

Garota em Pedaços é um livro que precisa ser lido, pois reflete a realidade de milhares de garotas ao redor do mundo. São meninas que enfrentam a dor e o medo todos os dias, e que precisam de ajuda. Assim como Charlie, todos podemos mudar e curar nossas cicatrizes.






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16 comentários:

  1. Amanda!
    Infelizmente muitas pessoas criticam e acham que é uma doença banal que se a pessoa quiser, pode sair sem ter auxílio e isso não é verdade, é preciso estar atento, receber atenção e diagnóstico e acompanhamento médico.
    Deve ser um livro bem enriquecedor e principalmente um alerta.
    Desejo um ótimo feriado!!
    “A sabedoria consiste em ordenar bem a nossa própria alma.” (Platão)
    Cheirinhos
    Rudy
    TOP COMENTARISTA DE SETEMBRO 3 livros, 3 ganhadores, participem.

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  2. OI Amanda.
    Eu estou ansiosa para ler o livro, porém estou em preparando mentalmente para o que está por vir, saber que o livro desperta alguns gatilhos é ruim ao meu ver, mas isso também toda o enredo interessante, claro para pessoas que não passaram por coisas do tipo, o fato de que acompanhamos as emoções dela já me dar uma dorzinha no coração, pois sei que esse livro vai me destruir, mas também não poderia deixar de conferir.
    bjs.

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  3. To muito ansiosa pra ler esse livro. Ainda mais depois dessa resenha maravilhosa😍.
    Me preparando psicologicamente agora mesmo.

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  4. Oi Amanda.
    Quero muito ler esse livro.
    Ele tem uma temática forte, mas que todos devem ler e se sensibilizar por garotas como Charlie.
    Fiquei super curiosa para saber o que aconteceu no seu passado, para que ela fosse levada ao hospital psiquiátrico e que causou sua mudez seletiva.
    Estou ainda mais curiosa para acompanhar a jornada de Charlie e esperar por um final feliz.
    Bjs

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  5. O livro não me passou desapercebido, tinha uma vaga ideia do que se tratava a história,gostei de ver a resenha dele por aqui,é meu estilo tramas que envolvem reflexões psicológicas.
    Classificação excelente?Parece uma boa dica

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  6. Oi Amanda, deu pra sentir o quanto a história é intensa e triste através da resenha, tá bem sensível assim como parece ser a história, já consegui criar ternura por Charlie com tantos problemas. Gostei da resenha e espero ter a oportunidade de ler no futuro, no entanto acho que tenho que escolher o momento certo pra lê-la por ser uma história bem forte *__*

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  7. Sinto que essa historia carrega uma carga emocional bem grande, não deve ser fácil viver assim. O tema que aborda no livro não foge muita da nossa realidade, aonde muitas meninas se cortam. Adorei esse tema e com certeza quero ler.
    Adorei a resenha, beijos.

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  8. Não sabia que a historia trazia esse peso emocional grande. Tem muitos temas que eu gostei de saber que tem na história pq são super importantes serem falados. Pena que um problema tão sério seja levado de maneira leviana :/

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  9. Agora estou muito interessado nesse livro. Pós em esta em pedaços, eu já fiquei por um tempo, e acho que muita gente também, embora seja de outros motivos e de gravidade mas leve, mas acho que este livro serve para nos mostrar que a nossa dor não é o fim do mundo. E que podemos viver com ela.

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  10. Eu adoro realizar a leitura de livros com temas polêmicos, até para a gente conhecer mais e ter mais noção de como é o pensamento da pessoa que vive aquele tipo de situação. Já li muitos assim, e sempre acabei pesquisando mais sobre a doença e tal. Este livro desde seu lançamento me chamou a atenção devido a este motivo, pois ainda não ter visto nada sobre esta temática. Adorei conferir a resenha, creio que não seja uma leitura fácil, mas ainda sim tenho muito interesse em ler ele.

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  11. Oi Amanda, parabéns pela resenha!
    Que livro mais intenso! Confesso que essa trama é bem mais forte do que imaginei. Li poucos livros que abordam esse tema de automutilação, é um tema muito doloroso mas extremamente necessário ser abordado.
    Que sofrida a vida da Charlie, lidar com a perda do pai e da melhor amiga, tendo um relacionamento conturbado com a mãe... Nossa, quanta barra essa garota teve que passar.
    É uma história bem perturbadora e cruelmente realista, fiquei aflita em saber o desfecho da vida dessa personagem, vou colocar o livro na meta de leitura do próximo ano.
    Beijos

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  12. Eu sou LOUCA por esse livro. Louca pela capa. Ainda não li ele, mas foram tantas resenhas lidas, que a cada uma quero cada vez mais ele. Amo livros com esse tema. Sua resenha me cativou a comprar o livro, pena que estou sem dinheiro. Na Black Friday eu compro hahaha'!

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  13. Morro de vontade de ler esse livro, já vi várias resenhas positivas quanto a ele, sem falar que livros em que os protagonistas precisam lidar com algum tipo de dor, seja ela física ou emocional, eu já me interesso, a vida da Charlotte parece ter sido bem difícil, espero que no fim fique tudo bem com ela.
    Beijos!

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  14. Não conhecia o livro, mas parece ser realmente aqueles livro que precisam ser lidos por todos.
    Uma premissa bem forte e impactante , que nos faz pensar em muitas coisas.
    Adorei a dica e a resenha ficou sensacional !

    beijos

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  15. Essa é a primeira vez que vejo falar do livro e fiquei super interessada nele, a historia parece ser bem pesada, pois TCI não é fácil, é algo delicado de se falar, mas necessário, espero ter a oportunidade de ler o livro logo, e tenho que me preparar, pois tenho certeza de que o livro vai mexer muito comigo.
    Beijos *-*

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  16. Olá!
    Esse livro me desperta um sentimento em mim que não exatamente como explicar. A historia da garota e muito pesada, é complicado ver que ela está sozinha nessa situação, onde não há ninguém que possa apoia-lá. Eu estou desejando esse livro desde do lançamento e estou muito curiosa para ler ele.

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