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terça-feira, 29 de novembro de 2016

✓ Resenha: Cidade dos Fantasmas - Daniel Waters




Sinopse: Após uma catástrofe que matou milhões de pessoas, uma fenda se abre entre as dimensões e as cidades passam a ser assombradas por fantasmas. Verônica não passa um dia sem ver um fantasma, mas eles não a assustam. Porém, os fantasmas estão ganhando força e começam a aparecer com muito mais frequência. Ela e seu colega de classe Kirk, investigam por quê e descobrem uma história sinistra: August, seu professor de história, não se conforma que a sua filha não voltou do mundo dos mortos como fantasma e acha que para isso acontecer ela precisa primeiro se apossar de um corpo, e que Verônica é a pessoa certa para abrigar o espírito da filha. Mesmo que esteja errado, que mal há em criar mais um fantasma, se já existem tantos!


Título: Cidade dos Fantasmas
Autor:  Daniel Waters
Editora: Jangada
Gênero: Suspense / Sobrenatural
Páginas: 304
Onde Comprar: R$19,90
Classificação:



Verônica é uma adolescente rodeada por fantasmas. Eles estão nas ruas, em sua escola, no cinema onde trabalha e até mesmo em sua própria casa. Um deles, inclusive, é seu pai, que aparece todas as manhãs pontualmente na cozinha, lendo um jornal fantasma e bebendo café.

Mas os fantasmas não são criaturas aterrorizantes, são mais como memórias: imagens que aparecem sempre na mesma hora e local, repetindo algo que alguém um dia fez em vida: uma professora dando aula, uma mulher lendo uma carta na caixa de correio, a garota assassinada - Mary - subindo os degraus e batendo à porta do professor de história August. Tudo graças ao Acontecimento, evento que levou milhões de pessoas à morte e fez surgir imagens fantasmas pelo mundo todo. As teorias são várias, para alguns, o Acontecimento abriu uma fenda entre este mundo e o próximo, trazendo de volta os espíritos dos mortos. Já para outros, incluindo o professor Pescatelli, as imagens são resultado de um processo químico, causado pela liberação de toda a energia vital, não sendo uma ponte entre este mundo e a vida após a morte, mas sim uma ponte entre este mundo e o passado.

“− E acredito que a alma, em vida, deixa rastros de sua energia em todo lugar por onde vai. – Ele pensou em Molly, a garotinha da biblioteca, o olhar de felicidade simples e pura no seu rosto enquanto tentava alcançar um livro. – E acho que há certas coisas, emoções, acontecimentos especiais, que fazem com que mais dessa energia seja liberada.

− Eu penso o seguinte. Quando todo mundo... morreu... no Acontecimento, uma grande soma dessa energia anímica foi liberada de uma vez só. A radiação dessa energia atravessou o ar e a matéria e ativou as imagens.” (p. 133)

Entretanto, tudo parece mudar quando Brian – o novo fantasma da casa de Verônica – parece sorrir para ela, além de conseguir refletir sua própria imagem no espelho, algo inédito para um fantasma. Para piorar, boatos sobre a aluna Mary surgem cada vez mais fortes, especulando sobre sua imagem que aparece na porta da casa do professor August todas as manhãs.

Alguns acreditam que as imagens são como gravações digitais, que reproduzem cenas que ocorreram antes do Acontecimento. Outros, contudo, acreditam que os fantasmas são pessoas que realmente voltaram ou que podem fazer algum mal, por isso Janine, a melhor amiga de Verônica, morre de medo deles. Já August não se conforma de nunca ter visto sua filha de novo, mas acredita que sua sorte irá mudar no dia 29 de fevereiro – dia em que Eva morreu e, coincidentemente, o aniversário de Verônica.

Quando Verônica se junta a Kirk, seu colega de classe, para participar de um projeto da escola, várias teorias sobre o Acontecimento passam a ser investigadas, incluindo filmar os fantasmas da cidade, até mesmo aqueles que foram assassinados. Alguns desses fantasmas, contudo, vão muito além de meras imagens, podendo ter consciência e transmitir sensações, além do frio que emanam.

“Para Verônica era incompreensível que a pior parte do Acontecimento – que tirou a vida de um a quatro milhões de pessoas, dependendo da fonte – fossem alguns fantasmas. Os fantasmas como a epidemia e a morte agonizante, o dano ambiental e o caos generalizado que vieram em seguida, foram meras consequências do horror que foi o Acontecimento em si. Ele varreu seres humanos com o desdém indiferente de uma mão espanando grãos de sal esparramados, e os fantasmas eram a pior parte?! Mesmo o mais arrepiante dos fantasmas não parecia incapaz de praticar maldades. Aos olhos de Verônica, os fantasmas eram no máximo irritantes, nada mais.” (p. 16)

Cidade dos Fantasmas é uma leitura com uma pitada de terror – apesar de não lidarmos com fantasmas assustadores – mesclado com o suspense de um possível assassinato e com o sobrenatural aparecimento dos fantasmas. Na narrativa, várias teorias vão sendo abordadas sobre o que possibilitou o surgimento de todos os espectros que compõem a cidade, algo já tão natural quanto as pessoas vivas. A trama é bem criativa e aborda um aspecto totalmente diferente sobre fantasmas – o fato de serem memórias e não assombrações – , envolvendo inclusive aspectos científicos para justificar tal fenômeno, fugindo totalmente dos clichês. Contudo, não revela todas as dúvidas dos leitores ao final do livro. Haverá uma continuação para explicar exatamente o que foi o Acontecimento, por que ocorreu e se alguma das teorias levantadas são válidas? Espero que sim, pois confesso que esperava respostas que não vieram.

Apesar disso, a narrativa é fácil de ler e bem envolvente. Temos o cenário adolescente de uma escola, a protagonista Verônica, que nada mais é que uma garota normal – que gosta de sair com meninos e acha até mesmo o fantasma que aparece em seu banheiro bonitinho. Apesar de todos tratarem os fantasmas com indiferença ou receio, Verônica é corajosa a ponto de decidir matar sua curiosidade sobre os mistérios que envolvem essas imagens e revelar o que de fato ocorreu com Mary.

É uma leitura que não promete sustos, mas que instiga a imaginação e aborda um lado totalmente inusitado sobre fantasmas, em uma narrativa envolvente que faz o leitor virar uma página atrás da outra. A capa e a diagramação estão bonitas, mas alguns errinhos passaram pela revisão.

“− Teoricamente, quanto mais tempo passasse desde o Acontecimento, menos fantasmas apareceriam. O auge da atividade paranormal depois do tsunami na Indonésia foi mais ou menos três anos depois, e parece ter culminado em Hiroshima e Nagasaki uma década depois do bombardeamento. E então houve Sendai... Eles ainda aparecem com alguma regularidade. Estou falando de fantasmas visíveis, é claro. Até hoje não se pode andar por um campo de concentração sem se sentir assombrado.” (p. 35)


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