Destaques

domingo, 13 de julho de 2014

✓ Resenha: O Sonho e a Morte - A. J. Kazinski

Sinopse: O Negociador da policia Dinamarquesa Niels Bentzon está de volta no segundo livro da dupla A. J. Kazinski, O Sono e a Morte. Desta vez, Bentzon investiga um enigmático suicídio, em que a vitima parece ter tirado a própria vida para fugir de um criminoso de métodos sinistros e intenções misteriosas. Enquanto trabalha no caso Niels entra em um arriscado mundo em que a linha entre a vida e a morte parece vez mais tênue.
Título: O Sono e a Morte
Autor: A. J. Kazinski
Editora: Tordesilhas
Pág. 464
Melhor preço: R$25,90
Classificação: 9,4 (Ótimo)




“Sócrates começa demonstrando que a natureza ordenou tudo de modo cíclico. O que é grande foi pequeno um dia. O que está bem esteve um dia menos bem. E isso funciona nos dois sentidos. Senão as nuances e os opostos deixariam de existir. Você me entende?
- Acho que sim. E isso é certo?
- Como assim?
- Ele tem razão?
- A vigília sucede o sono, que por sua vez sucede a vigília, não é assim? – Ele dirigiu a Niels um olhar indagador.
- Sim
-Nesse caso não podemos concluir que o que é morto volta à vida?” (p. 164)



A história se desenvolve através do tema de EMI – experiência de morte iminente. Esse termo se refere a um conjunto de visões e sensações associadas a situações de morte iminente, sendo as mais divulgadas a projeção da consciência e a sensação de serenidade. Esses fenômenos são normalmente relatados após o indivíduo ter sido pronunciado clinicamente morto.
Niels é um ótimo negociador da polícia, se não o melhor, sempre requisitado para impedir suicídios. Hannah Lund é sua esposa, uma astrofísica não muito sociável. Niels trabalha há 15 anos no Departamento de Homicídios e, até então, nunca havia perdido ninguém. Mas o quão contraditório é saber que o próprio Niels já não sabia se existiam razões suficientes para continuar vivo?

“- Sempre há uma boa razão para viver.
Por que ele tinha dito aquilo? Acima de tudo: nunca mentir, lembrou-se. Dizer apenas a verdade. Nada além da verdade. Ele baixou os olhos. Achava realmente aquilo? Ele mesmo já não tivera a impressão de ter esgotado todas as boas razões de viver? Sim, ele conhecia esse sentimento. Conhecia-o bem demais. Mas Niels não podia confessar nada disso naquele momento. A honestidade tinha limites” (p. 31)

No primeiro capítulo conhecemos a angústia de uma mulher que é mantida refém por alguém que faz experiências com a vida e a morte. Em um momento de lucidez, ou num pequeno momento em que ainda consegue resistir a substancia que havia sido aplicada em seu corpo pelo sequestrador, a mulher foge e ameaça pular da ponte de Dybbolsbro.
Niels é chamado para ajudar no caso e tenta manter diálogo com a moça que ameaça pular em direção aos trilhos do trem. A moça é jovem e está completamente nua e drogada. Niels percebe que há algo maior atrás de seu temor, a moça estava apavorada e procurava por algo. Estaria sendo perseguida? Niels falha pela primeira vez em impedir um suicídio. Estaria seu possível perseguidor entre as pessoas que presenciaram sua morte?
Niels diz uma frase aparentemente estranha para Dicte antes dela saltar: “Se você pular, eu pulo com você”. Que raios se passava pela mente de Niels? Ou seria essa uma promessa que Niels faria de tudo para cumprir?

”O sangue havia colorido de vermelho o cascalho em volta do crânio despedaçado. O sangue dela. O fluido vital que havia escoado do seu corpo – através dos seixos e dos trilhos escurecidos pela ferrugem – e agora se enterrava no chão seco da cidade. Niels começou a encarar os curiosos de novo. Todos. Sua impressão era de que tinham sido eles. Eles que a tinham empurrado para o vazio. A cidade fizera isso” (p. 36)

Traçando o perfil do suspeito, sabemos que é alguém obcecado pela ideia de vida após a morte. Para provar que era possível ir ao além e voltar, havia selecionado pessoas que haviam morrido vários minutos antes de serem reanimadas (pessoas que passaram por experiências de morte iminente).
Traçando o perfil do nosso investigador Niels, sabemos que ele vinha passando por uma fase difícil com sua esposa, queria se separar, pois achava que ela não o amava. Hanna, por sua vez, vivia sob a culpa do suicídio de seu filho aos 15 anos, e também escondia um segredo: estava grávida, mas a vida ou a morte dessa criança estava em suas mãos.
Paralelamente, conhecemos Silke, uma adolescente internada no Hospital de Bispebjerg, no Serviço de Psiquiatria Infantil. Silke resolveu se calar para sempre após presenciar o assassinato de sua mãe causado pelo seu amante. Mas sua relação com os outros acontecimentos vai muito além do que podemos imaginar.

“Depois, porém, me convenci de que até mesmo a morte era suave demais para um monstro como ele. Isso foi depois que eu li O Estrangeiro, de Camus, que conta a história de um empregado de escritório, Meursault, que assassina um árabe na praia, na Argélia. Quase ao acaso. Quase para apenas saber o que sentimos quando matamos um ser humano. Depois do crime, Meursault é julgado e condenado â morte, uma sanção que ele aceita plenamente. E no final do romance, enquanto está à espera da execução, ele tem uma longa conversa com um padre, com quem ele na verdade não tem a menor vontade de falar. Esse padre, que tenta em vão fazer com que ele tome consciência da gravidade do seu crime, constata que nós somos todos condenados à morte. Nós somos todos condenados à morte. E ele tem razão. Assim, condenar um homem à pena capital equivale a apenas precipitar o inevitável”. (p. 263)



Voltando ao caso da moça que se suicidou, descobrimos que se tratava de Dicte van Hauen, uma estrela do balé do Teatro Real. Porém o mais inusitado foi que, em sua autopsia, foram identificadas marcas de desfibrilador em seu peito e sinais de afogamento em seus pulmões. O que havia acontecido? A única pista que temos é uma frase enigmática anotada em sua mão.
Descobrimos que Dicte também era obcecada pela idéia de vida após a morte, encontrando em seu quarto no Teatro Real o livro de Fédon (dedicado às últimas horas de vida de Sócrates e às suas reflexões sobre a imortalidade da alma). Um cartão postal de uma escultura de Thorvaldsen e um desfibrilador desaparecido do teatro são todas as pistas que Niels deverá juntar para desvendar o único caso em que não conseguiu impedir um suicídio.

“Fédon foi aluno de Sócrates. Como outros, fizera companhia a ele na cela, nos últimos instantes da sua vida. Antes que o filósofo bebesse veneno. Foi durante as suas últimas horas que Sócrates teve a prova da imortalidade da alma. Se não tivesse lido essa obra, se ela não tivesse obcecada pelas reflexões de Sócrates sobre a imortalidade da alma, nada disso teria acontecido. Sua curiosidade tinha sido fatal” (p. 10)

Vale ressaltar uma terrível coincidência: Hanna Lund já havia passado por uma experiência de morte iminente. Quanto tempo levará para Niels ligar os fatos e ver que sua própria família corre perigo?

“Ele inspirou profundamente e entrou no carro. Estava transpirando. Tinha o livro entre as mãos. Fédon. Sócrates. Dicte van Hauen, 1992. Ao folheá-lo novamente, notou que faltava uma página. Havia sido arrancada. A página 41. Ele fechou os olhos para pensar. Ela havia sido seqüestrada por trinta e seis horas. Afogada. Reanimada. Depois fugira. E embaixo da sua cama ele havia encontrado um livro dedicado à existência da alma. E desse livro uma página fora arrancada.” (p. 157)

Uma das melhores histórias policiais que já li. Dispõe de uma trama bem elaborada, suspense e acontecimentos inesperados, além de poucas pistas que requerem muito raciocínio para desvendar esse caso. A trama tem um desfecho bem bolado, distraindo os leitores do verdadeiro assassino.
O tema central da história é diferente e desperta a curiosidade, além disso, não é um caso típico de polícia, uma vez que a causa da morte da vítima já estava bem esclarecida, afinal, havia muitas testemunhas do suicídio de Dicte.
Não tive problemas com a diagramação nem com a revisão. A capa, apesar de transmitir suspense, não me agradou tanto. Os cenários e os diálogos são bem elaborados, principalmente por Niels ser um negociador da polícia. A narrativa é ótima, prendendo a atenção do leitor ao intercalar os capítulos de diferentes personagens, mas há alguns trechos cansativos que poderiam ter sido evitados.
Gostei muito de Niels, que se mostrou um policial disposto a realmente fazer de tudo para desvendar seu caso, além de possuir empatia e um raciocínio lógico surpreendente.


Comentários via Facebook

2 comentários:

  1. Oi Andréa!

    Nossa... fiquei tipo: =O com sua resenha! rsrsrsrsrrs
    Preciso deste livro! Nunca li nada do genero e fiquei curiosa....
    Mais um na minha listinha para a Bienal! rsrsrsrrs

    bjo bjo^^

    ResponderExcluir
  2. Pelo nome e capa eu não leria o livro haha, mas ainda bem que li a sinopse e a resenha diva. Amo histórias policiais <3 e essa história tem um tema inusitado, completamente diferente de qualquer livro que me recordo de ler.
    Beijocas ^^

    ResponderExcluir

© Fundo Falso | Andréa Bistafa – Desde 2010 - Tema desenvolvido com por Iunique - Temas.in