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quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

✓ Análise Interpretativa: Dom Casmurro - Machado de Assis




Sinopse: Machado de Assis (1839-1908), escrevendo Dom Casmurro, produziu um dos maiores livros da literatura universal. Mas criando Capitu, a espantosa menina de "olhos oblíquos e dissimulados", de "olhos de ressaca", Machado nos legou um incrível mistério, um mistério até hoje indecifrado. Há quase cem anos os estudiosos e especialistas o esmiuçam, o analisam sob todos os aspectos. Em vão. Embora o autor se tenha dado ao trabalho de distribuir pelo caminho todas as pistas para quem quisesse decifrar o enigma, ninguém ainda o desvendou. A alma de Capitu é, na verdade, um labirinto sem saída, um labirinto que Machado também já explorara em personagens como Virgília (Memórias Póstumas de Brás Cubas) e Sofia (Quincas Borba), personagens construídas a partir da ambigüidade psicológica, como Jorge Luis Borges gostaria de ter inventado.

Título: Dom Casmurro (Skoob) | Autor: Machado de Assis | Gênero: Ficção | Editora: Carambaia | Páginas: 384 | Onde comprar: Essa edição está fora de catálogo. | Classificação: 10 (Excelente!)

Assista Aqui:


Você pode optar em assistir ou ler o roteiro do vídeo abaixo, é o mesmo conteúdo.

Essa é uma análise interpretativa e não uma resenha! Haverá spoilers, sendo mais como um debate, pretendo abranger aspectos importantes ao meu ponto de vista, para a questão que perturba os leitores ao longo dos anos: Capitu traiu Bentinho? 

Dom Casmurro é narrado em primeira pessoa, e mais que isso, ele é um narrador que está contando sua história diretamente ao leitor e por muitas vezes ele conversa com o mesmo, para grifar sempre seu ponto de vista como verdade absoluta. 

Então a partir disso nós já sabemos que Bento ou Bentinho, que é o verdadeiro nome de Dom Casmurro, não é um narrador confiável, logo que tudo que ele contará tem a sua visão e sua perspectiva. Ainda outro ponto importante é que esse narrador não nós conta sua história conforme ela acontece, como em algumas narrativas em primeira pessoa, ele nós conta sua história de vida no passado, ou seja, anos de vida que podem ter se moldado ao interesse do personagem e se misturado ao seus medos e suas fantasias. Ele já senhor, que julgo por volta dos cinquenta anos, narrando sua vida desde os quinze, o que é bastante conveniente já que nenhum dos personagens citados durante o livro estão vivos para confirmar ou debater tudo que ele nos expõe. 

Dom Casmurro é um apelido dado por um poeta num dia qualquer durante uma pequena viagem de trem, e esse apelido acaba pegando quando ele comenta na vizinhança. Logo no início ele te avisa que não é necessário procurar o significado no dicionário, ele mesmo nós diz que significa indivíduo fechado em si mesmo; ensimesmado 

Desde o primeiro contato nós então percebemos que Bento tenta direcionar os fatos para o que melhor lhe convém, desde seu próprio apelido isso já está lá. 

Se vocês forem teimosos como Bento e eu, irão procurar no dicionário e encontrar o seguinte: além de ensimesmado, Casmurro também significa indivíduo teimoso, obstinado e cabeçudo. 

A trama central portanto se desenrola a partir da mãe de Bento, quando após vários abortos faz uma promessa divina, como boa católica que é, de que se o filho vingar ele se tornará padre. 

Então certo dia, por volta de seus quinze anos, Bento escuta escondido José Dias lembrando a mãe da promessa e cobrando que ela a cumpra. 

Vamos aos detalhes dos personagens. Os pais de Bento eram senhores de escravos e tinham uma fazenda em outra região, antes da casa onde eles moram no começa de sua narrativa. 

Quando Bento ainda era um bebê, um homem chamado José Dias que se vendia como médico homeopata aparece pelas redondezas, e acaba por curar uma escrava de sua fazenda sem cobrar nada por isso. Então o pai como pagamento e também achando conveniente manter um doutor por perto, lhe propõe que ficasse vivendo ali. De início José dias recusa pois alega querer levar saúde a todos, mas depois de alguns meses, aparentemente sem ter onde ficar ele retorna e acaba se instalando. 

Quando o pai é eleito deputado do Rio de Janeiro, José Dias vem junto na mudança e acaba morando em um quartinho nos fundos da propriedade. Com o passar do tempo José Dias acaba confessando que não é médico mas que estudou muito ainda que não tenha um diploma, o ano era meados de 1857 então acaba não acarretando um problema como seria nos dias de hoje. 

Quando o pai morreu foi que o agregado ficou de vez e acabou até desenvolvendo uma autonomia e autoridade dentro da casa que agora era habitada pela mãe, Bento o tio Cosme e Prima Justina. 

Como sabemos, as mulheres da época eram muito dependentes e submissas aos seus maridos, então Dona Glória, a mãe, fica bastante desolada com a morte do esposo e acaba dando toda a liberdade de opinião que José Dias desenrola ao longo da trama. 

Então voltando, certo dia, por volta dos quinze anos Bento escuta José Dias cobrando a mãe pela promessa e fica surpreso quando o mesmo insinua a possibilidade dele estar enamorado pela amiga Capitu. Eram apenas crianças, mas a partir desse dia é que Bento começa a vê-la de outra forma e começa então a tentar fugir dessa incumbência do monastério. 

Então aqui nós também começamos a notar que Bento é suscetível a influencias externas, já que até o momento ele não havia notado, se dado conta, ou ele talvez não estivesse de fato apaixonado ainda por Capitu, ainda que a menina desse sinais de que estava. 

Então nesse momento nós leitores começamos a torcer por esse casal mirim que parece muito fofo, eles querem ficar juntos, querem se casar e ter filhos. 

Ao logo das próximas páginas Bento tenta de várias formas com a ajuda de Capitu persuadir a mãe a fim de não enviá-lo para o seminário, sem mostrar também que está apaixonado pela amiga como encontra-se nesse momento. E entre conversas pedindo o apoio de José Dias, que sempre me soou bem estranho, porque é bem nítido que José Dias queria Bentinho no seminário, inclusive é ele o responsável pela primeira crise de ciúmes do garoto, de qualquer forma José acaba bolando uma forma de persuadir a mãe e o garoto quanto ao tempo no seminário, manipulando para que o garoto permaneça lá primeiro um, depois dois anos. O mais importante pra mim nessa parte é um dos pensamentos que Casmurro compartilha conosco que é: “Penso em mamãe defunta. Eu estaria então livre da sua promessa não?” E nas linhas seguintes ele se desculpa e diz que o pensamento foi um lapso e que jamais desejaria a morte da mãe tão amada. Mas mesmo assim nó conseguimos visualizar um Bento que faria de tudo por seus objetivos, ainda que talvez não lhe sobrasse coragem, a vontade esteve lá. 

Agora por fim a análise principal aqui, acho que a maioria de quem leu e gosta de debater esse livro quer mesmo é desvendar esse fato, quando chega o momento em quem Bento acredita que foi traído pela Capitu e isso desgraçou a sua vida. 

Após a fase da infância/adolescência, logo que sai do seminário o casal enfim fica junto. 

Capitu tinha uma grande amiga, quase irmã, Sancha, e Bento sai do seminário com uma grande amizade com Escobar. Como é natural, os amigos são apresentados e acabam também se casando. Isso resulta em passeios em casais, amizade entre os quatro, enfim, uma vida normal. 

Precisamos dar uma atenção extra para a amizade que nasce entre Bento e Escobar, pois entre confidencias trocadas, os meninos acabam identificando-se um com o outro já que ambos não pretender seguir o celibato e se tornarem padres. Ambos tem ambições, Bento de estudar direito em São Paulo e Escobar ser comerciante. É também Escobar que arranja uma forma de “burlar” a promessa de Dona Glória. Escobar sempre se mostra mais homem que Bentinho, já enraizando desde a juventude uma certa competição e ciúmes. Ficando sempre nas entrelinhas que tanto Escobar como Capitu sempre foram mais ardilosos que Bento. 

Com os anos o casal amigo gera um filho e Casmurro e Capitu não conseguem essa façanha, deixando Bento bastante abatido. 
Até que certo dia, Capitu engravida e eles tem um belo filho. 

Vamos voltar. 

“Estou que empalideci; pelo menos, senti correr um frio pelo corpo todo. A notícia de que ela vivia alegre, quando eu chorava todas as noites, produziu-me aquele efeito (...)”

O amor que Bento sente é um amor que machuca, pois ele quer que a amada sofra com ele, e o simples comentar de alguém, que a garota possa estar demonstrando – que é bem diferente de sentindo – felicidade é o bastante para colocar seu amor em dúvida. 

Bento sempre foi ciumento. Ele nunca escondeu isso do leitor. Por vários trechos ele diz sentir ciúmes da esposa quando essa usa um vestido que mostra os braços, ele sente ciúmes que ela o espere na janela pois acredita que pode estar dando liberdade aos moços que passam na rua, então Capitu passa de uma menina muito comunicativa e peralta à uma mulher retraída que vive e espera pelo marido dentro de casa, ela simplesmente se apaga com o passar dos anos. E em nenhum momento Bentinho diz que Capitu reclama disso, pelo contrário, ela tende a acatar e apoiar todas as exigências do marido. 

Então chega a tarde fatídica em que Escobar, amigo de Bento, morre afogado. 

E é durante o velório - vamos lembra que era um rapaz jovem com um filho pequeno e esposo de sua melhor amiga - que Bentinho tem o primeiro grande lapso de ciúmes, e sim, pelo falecido deitado no caixão. Acontece que ele acredita que Capitu olhou tempo demais e fixamente demais para o morto enquanto segurava e consolava a viúva que estava em estado de choque. 

Acho que nesse momento eu nem preciso dizer o quanto esse ciúmes é doentio e surreal né? 

Então, chegando em casa Capitu leva o filho deles para deitar e acaba chorando e se comovendo com a situação em si, ela olha para o filho e sente medo de que seu marido também morra e deixe o menino sem pai, e ela diz isso nos braços do esposo, não morra porque nós o amamos. E a única coisa que Bento consegue pensar é que talvez ela esteja chorando porque amava o amigo deles. 

Então alguns dias passam e Capitu, veja: a própria Capitu, mulher que vemos através das próprias palavras de Bento que é totalmente submissa, diz ao marido que a expressão dos olhos do filho deles lembram os olhos do falecido. E isso é o suficiente para Bento acreditar que provavelmente era estéril e ela engravidou do amigo. 

Isso veio como um baque pra mim, porque é muito superficial a acusação. Quantas mulheres engravidam apenas uma vez dos esposos e não conseguem mais? Quantas pessoas no mundo se assemelham em traços com outras, ainda mais no século dezenove onde as colônias de imigrantes eram mais fechadas e se misturavam menos as raças. E porque raios Capitu seria tão burra de fazer um comparativo desses, se de fato tivesse dormido com o amigo? Será que ela apenas não queria homenagear o amigo que acreditava ser tão próximo de seu marido? Talvez numa ideia infeliz e inocente? 

Há um trecho bastante questionável onde o pai de Sancha, a amiga de Capitu, chama Bentinho ainda na adolescência e lhe mostra o retrato da esposa afirmando ser muito parecida com Capitu. Veja bem, a mãe de sua melhor amiga, vista até como irmã pela própria. Seria isso só uma prova de que “a vida tem dessas coisas”? Seria as amigas irmãs realmente? será que houvera ai uma traição também? Isso poderia estar enraizado no subconsciente de Bentinho e inconscientemente leva-lo a acreditar que a traição estava nos genes da mulher? 

Esse livro é incrível, conseguem ver que ele vai muito além de uma prosa sobre infidelidade? Ele é investigativo, psicanalítico! Machado foi genial! 

Depois desse dia a vida conjugal dos dois se desgraça até o ponto de Bento pensar em suicídio para aplacar sua dor, mas não sem antes pensar em matar a esposa. 

Mas aí nesse trecho temos milhares de confirmações que provam o quanto ele é um narrador inconfiável. Ele cita que quer morrer e quer fazer isso para que Capitu sinta-se culpada, e até o momento a moça nem sabe o que está acontecendo, só nota o afastamento do marido e o respeita. Nesse lapso suicida ele também tem a ideia de matar o filho envenenado. Então aqui nós temos mais uma demonstração do desequilíbrio emocional de Bento, já que não é a primeira vez que ele pensa em matar para solucionar o sofrimento dele. Lembram que ele também pensou em matar a mãe? 

No momento decisivo ele não tem coragem e se arrepende novamente pelo pensamento e acaba falando e jogando na cara de Capitu tudo que pensa. A mesma fica sem palavras e depois disso ele envia filho e esposa para a Europa e nunca mais a vê. Já o filho, ele tem um breve encontro no futuro onde praticamente alucina que seria a representação total de seu falecido amigo, tratando o rapaz que tanto lhe tem amor, pois Capitu nunca falou os motivos reais do afastamento ao filho alimentando no mesmo o amor pelo pai, como um ser desprezível. 

Bento passa meses remoendo esse pensamento de traição, tanto que dos olhos ele passa a ver traços do amigo no garoto todo. Ele passa a confundir o menino com o próprio falecido. De tanto pensar nisso, se torna real para ele, isso é nítido mesmo quando ele tenta persuadir o leitor. 

E tem outra chave nessa história. Que eu acredito, veja bem, EU, que seja uma possível razão somada já a uma personalidade doentia. 

Vocês lembram que José Dias entra pra família como se ocupasse o lugar do falecido pai? 

E isso na cabeça de uma criança, na época onde ainda mais que hoje, o machismo era muito presente, talvez ele tenha tido uma desconfiança que ele mesmo nunca admitiu a si, de uma relação da mãe com José Dias. 

Por que eu estou dizendo isso? Porque notamos que o ciúmes sempre esteve presente na vida dele, e a falta de confiança nas mulheres também. E quando ele pensou estar sendo traído ele sentiu vontade de matar Capitu, assim como ele sentiu vontade de matar a mãe. Mais pra frente a mãe morre e ele manda escrever - e até briga com o bispo local por esse motivo - na lápide da mãe, não seu nome, mas somente a palavra Santa. 

Temos que ler com atenção, porque você vai notar que José Dias aparece em trechos que ele não deveria dar a opinião dele e isso inconscientemente remete ao Bento essa liberdade grande do agregado dentro de sua família, e entre ele e mãe. E na minha concepção nunca houve nada entre os dois, já que José Dias também comenta a santidade da mãe no fim, quando diz que se o bispo a conhecesse como ele, estaria escrito não somente Santa, mas Santíssima – ainda que ele amasse os superlativos. 

Dos trechos de acusação: Há o trecho onde Bento relata que Capitu não quis o acompanhar ao teatro por certa vez e preferiu ficar em casa já que estava sentindo-se mal. Quando Bento voltou na metade da peça pois estava preocupado com Capitu, encontra Escobar nas escadas de sua casa. O amigo afirma que estava indo ao encontro dele para conversas de trabalho. Ressaltando aqui que também não sabemos se Escobar estava entrando ou saindo da casa de Bentinho, pois o mesmo estava nas escadas da frente. 

Vale lembrar que nesse trecho, Bento não convida Escobar para acompanha-lo ao Teatro com o ingresso que sobra de Capitu, pois estava muito encima da hora. Então poderia o amigo realmente não saber que ele estava fora. 

Mas gente vamos nos lembrar que Capitu fazia tudo pelo marido, ela esperou ele sair do seminário, ela sempre acatou suas vontades e eles eram amigos, eram quatro amigos. Quantas vezes me senti indisposta e deixei meu marido sair sozinho? Isso pra mim não é prova suficiente de traição e ainda assim vamos lembrar que nosso narrador manipula os fatos como acha conveniente já que na data em que escreve todos os personagens já estão mortos. E ainda há um trecho onde o próprio diz que a imaginação sempre lhe foi companheira. 

“Antes de concluir esse capítulo, fui à janela indagar da noite por que razão os sonhos hão de ser assim tão tênues que se esgarçam ao menor abrir de olhos ou voltar de corpo, e não continuam mais.”

Mais um trecho que subentende-se que ele poderia acreditar que estava sonhando enquanto era feliz e depois que “abriu seus olhos” não conseguiu voltar mais ao sonho. 


Quotes 

Ele usa de vários trechos para persuadir o leitor a acreditar que ele narra com inocência e a malicia está em Capitu: 

“- Você tem razão, Capitu, concluí eu; vamos enganar toda esta gente.
- Não é? Disse ela com ingenuidade.”
“Tal recordação agravou a impressão que eu trazia da rua; mas não seria essa palavra, inconscientemente guardada, que me dispôs a crer na malícia dos seus olhares? A vontade que tive foi pegar em José Dias pela gola, levá-lo ao corredor e pergunta-lhe se falara de verdade ou por hipótese;”

Sobre Capitu ficar olhando a rua e os rapazes pela janela; “enquanto não pegar algum peralta da vizinhança que case com ela (...)” 

“Escapei ao agregado, escapei a minha mãe não indo ao quarto dela, mas não escapei a mim mesmo. Corri ao meu quarto, e entrei atrás de mim. Eu falava, eu perseguia-me, eu atirava-me à cama, e rolava comigo, e chorava, e abafava os soluços com a ponta do lençol. Jurei não ir ver Capitu aquela tarde, nem nunca mais, e fazer-me padre de uma vez”

Mais um trecho de desiquilíbrio emocional de Bento ainda na adolescência, onde sem nenhum motivo além de especulação de terceiros o faz sofrer um ciúmes terrível. 

No capítulo 118 Bento e Sancha trocam olhares mas ao que parece somente Bento viu algo a mais e confessa inclusive que pensou na amiga com malicia já que quando ele pega nos braços do amigo diz “Apalpei-lhe os braços, como se fossem os de Sancha. Custa-me esta confissão, mas não posso supri-la; era jarretar a verdade”. Em seguida ele confessa sentir inveja de Escobar “Não só os apalpei com essa ideia, mas ainda senti outra coisa; achei-os mais grossos e fortes que os meus, e tive-lhes inveja; acresce que sabia nadar.” 

Na parágrafo seguinte ele continua sua linha de pensamentos impróprios: “Quando saímos, tornei a falar com os olhos à dona da casa. A mão dela apertou muito a minha, e demorou-se mais que de costume.” 

Será que realmente Sancha estava seduzindo Bento ou era mais uma faceta de sua personalidade duvidosa? E lembram que citei a falta de confiança de Bento pelas mulheres? Como costumo dizer: quem muito desconfia que é traído provavelmente é porque trai. Então seus pensamentos eram maliciosos com a amiga e acabam projetando-se no inverso, sobre Capitu e Escobar. Mas em contra partida poderia ser Sancha também desconfiada da infidelidade do marido e da amiga tentando “virar” o jogo. 

Capitulo 115Bento nos conta que em conversa com Capitu a mesma lhe diz que a mãe/sogra está tratando-o friamente, a ela e ao neto. No Capito seguinte José Dias diz ser impressão pois a mãe elogia muito a nora a ele. 

Capitulo 116 - Capitu não gosta da referência que José Dias faz ao seu filho, quando chama-o de “Filho do Homem”, como nos conta Bento, José Dias estava lendo as vésperas o Livro de Ezequiel da bíblia e por isso a referência. Aparentemente, de acordo com Bento, Capitu não gosta da aspereza dessas palavras. Poderia ser um indicio da traição ou somente Bento mais uma vez tentando nos persuadir. 

Finalizando, esse é um livro aberto, onde a interpretação depende da experiência de vida de quem o lê, e nunca ninguém poderá afirmar com total certeza se Capitu traiu ou não traiu, mas pra mim ele não passa da vingança de um homem amargurado que tomando sua profissão, leva a esposa em julgamento, manipulando as provas e os testemunhos afim de convencer nós leitores, a declará-la culpada. 


A edição da Carambaia tem um posfácio de Hélio Guimarães que é professor de Literatura Brasileira na USP e pesquisador na CNPQ. As reflexões de Hélio quanto a obra são muito válidas e interessantes, e deixo aqui concordando com suas palavras: 

“O livro da minha memória é também um livro sobre a memória, que me expões à precariedade do tempo e das lembranças. Estas nunca são de fato exclusivamente nossas, e sim compósitos de lembranças várias, acrescidas de sonhos, delírios e imaginação.”


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