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sábado, 17 de junho de 2017

✓ Resenha: Minha Vida com Pablo Escobar - Jairo Velásquez

Sinopse: Conheça neste livro detalhes nunca antes revelados da vida de um dos maiores criminosos de todos os tempos...Jhon Jairo Velásquez, também conhecido como Popeye, foi líder dos sicários de um dos maiores e mais enigmáticos narcotraficantes da história: Pablo Escobar. Depois de 23 anos preso, Popeye foi libertado e neste livro conta sua trajetória na vida criminosa, bem como pormenores de suas maiores ações e do sistema que compõe o intrincado ramo do tráfico.
Ele iniciou sua carreira criminosa aos 14 anos, servindo como apoio para bandos de matadores e, surpreendentemente, entrou para a Polícia Nacional da Colômbia e para a Escola de Grumetes da Marinha Colombiana. Contudo, abandonou as duas instituições e foi recrutado para o famoso Cartel de Medellín de Pablo Escobar, sendo este o seu ponto de partida para ascender a uma vida violenta e impiedosa.
Nesta autobiografia, Popeye detalha inúmeras ações criminosas, dentre as quais há sequestro e assassinato de políticos, inclusive o de um candidato à presidência da República da Colômbia; a detonação de uma bomba dentro de um avião em pleno voo; duas rebeliões dentro da prisão – na qual recrutou um contingente de mais de oitocentos homens e um arsenal imensurável de armas –; além de ter confessado ser o responsável – direta ou indiretamente – por mais de 3 mil mortes.
Agora em liberdade, e depois de ter encarado múltiplas tentativas de assassinato, tortura, rebelião e extradições, Popeye alcança uma mudança espiritual e psicológica e inicia uma nova vida com a liberdade que enfim obteve.

Título: Minha Vida com Pablo Escobar (Skoob)
Autor: Jhon Jairo Velásquez
Gênero: Autobiografia / Não Ficção
Editora: Universo dos Livros
Páginas: 352
Onde comprar: Amazon / Saraiva
Classificação: 9,8 (Excelente!)
Livro cedido em parceria com a editora.




A resenha a seguir possui "spoilers" já que são fatos históricos muito relatados na mídia até os dias de hoje.

“Com minhas mãos, assassinei mais de 250 pessoas e fui cúmplice de muitos dos atos criminosos que deixaram mais de 3 mil vítimas nas guerras que fiz em nome de meu Patrón.” (p. 14)

Minha vida com Pablo Escobar é narrado por Jhon Jairo Velásquez, também conhecido como Popeye, que foi o braço direito de Pablo Escobar (narcotraficante mais poderoso da Colômbia), portanto, um livro autobiográfico.

Popeye, antes de se juntar à Pablo, havia trabalhado na Polícia Nacional e na Marinha colombiana, porém ambos o decepcionaram, pois não se tornou um guerreiro como gostaria. Juntou-se então ao Cartel da cidade de Medellín (capital de Antioquia, na Colômbia), onde a causa maior era a luta pela não extradição de colombianos para as prisões dos Estados Unidos, sendo o homem de confiança de Pablo durante doze anos. Jhon diz que algo dentro dele sempre o chamou para o perigo.

“Tinha então um coração louco, jovem e pronto para desafios, disposto a viver intensamente, quando participei da Marinha colombiana e da Polícia Nacional. Lá só tive frustrações [...] que acabaram apagando os meus sonhos de guerreiro e afogando aquela voz dentro de mim que só pedia liberdade.” (p. 10)

Pablo Escobar se tornou sócio de Don Jorge Ochoa, um narcotraficante que envolveu Pablo – já conhecido como assassino de aluguel e sequestrador – e seu primo Gustavo Gaviria no tráfico. Ochoa desejava se manter à sombra de um bandido que não temesse a violência, e juntos fundaram o Cartel de drogas de Medellín, possuindo como principal rival o Cartel de Cali (chefiado por Gilberto Rodríguez Orejuela e seu irmão Miguel).

Popeye narra vários momentos do seu trabalho com Pablo, alguns beiram o absurdo, como quando roubam um helicóptero da Polícia Nacional; o caso em que roubam uma caminhonete, mas depois descobrem que havia um bebê no banco de trás; quando explodem um avião na tentativa de matar César Gaviria (candidato à presidência e a favor da extradição), entre muitos outros fatos, incluindo a tentativa de assassinar Carlos Mauro Hoyos, procurador geral da nação, o sequestro de Andrés Arango, filho do ex-presidente da república (e também candidato à presidência) e até mesmo a aliança do Cartel com a própria Polícia Nacional.

“Eu fui parte daquele sanguinário e criminoso Cartel de Medellín, de incorreto proceder, de métodos repugnantes e de motivações mesquinhas para chegar à riqueza. Nele, aprendi a arte da guerra, deixando mortos, feridos e milhares de vítimas. Mas a primeira vítima desse cartel fui eu, porque, como colombiano, também faço parte de uma injustiça social que vem desde o século XIX, que nos arrastou a nove guerras civis e provocou a criação de guerrilhas marxistas, milícias camponesas, autodefesas e até cartéis de droga.” (p. 11)

Pablo, então, após cometer milhares de atrocidades e matar muitos policiais, acaba formando uma aliança: em troca da não extradição aceita ser preso, mas em uma prisão que ele mesmo manda construir, chamada de La Catedral. É claro que a prisão não tem nada a ver com as prisões tradicionais, sendo na verdade uma mansão, que possuía sala de jogos e quartos de luxo, além de ser cercado por cercas eletrificadas que o próprio Pablo ligava e desligava, onde ele ficava protegido junto com seus homens, planejamento e reestruturando seu negócio com as drogas.

“Custou ao Estado colombiano uma guerra brutal com quinhentos e quarenta policiais assassinados nas ruas de Medellín e mais de oitocentos feridos. [...] Todo esse rio de sangue justificou La Catedral de Envigado, um presídio supostamente de alta segurança que foi entregue a Pablo Escobar em troca de sua submissão à justiça.” (p. 77)

Contudo, além do Cartel de Cali, Pablo também tinha os guerrilheiros como inimigos, comandados por Carlos Castaño. Ao se sentir ameaçado por ambos em La Catedral, Pablo foge e inicia uma nova guerra, incluindo a explosão de uma bomba na região comercial de Bogotá. Surge, então, um novo grupo denominado Pepes (Perseguidos por Pablo Escobar), que têm por objetivo assassinar Escobar e seus homens, até mesmo seu advogado, contador e sua família.

“[...] A pergunta que os Pepes faziam era direta: Com Pablo ou contra Pablo?. Os que demoravam mais de um segundo para responder eram executados no ato, a sangue-frio, e os que diziam sim de imediato tinham de se tornar informantes ou inimigos nossos, sem opção.” (p. 145)

Popeye passou por diversos presídios, desde que decidiu se entregar, após conversar com Pablo, no intuito de conseguir ver sua namorada Ângela e mantê-la afastada da guerra travada entre Pablo e os Pepes, que tomava proporções alarmantes, levando a morte muitos homens de Escobar. Após um período de dez anos nas prisões mais luxuosas da Colômbia (passando pela La Catedral, presídio de Itagüí, presídio Modelo e La Picota), onde tinha direito à bebida, comida boa e até mesmo armas, buscando aliados na prisão e mantendo distância dos rivais de Pablo, foi transferido para um presídio estilo americano, Presídio de Valledupar: sujo, sem água, muito quente, com comida ruim, insetos por toda a parte e onde os detentos eram tratados como lixo.

Foi nessa época que Velásquez começou a mudar, aprendendo a ser resiliente, forte, a conviver em solidão e com o silêncio, mas nunca deixando de sorrir. Popeye passa a ter a ajuda de psicólogas durante o processo de ressocialização, quando também encontra a Deus e passa a dar valor às pequenas coisas e à sua família.

Eu comecei a ler Minha vida com Pablo Escobar pouco tempo depois de terminar de assistir a série Narcos, da Netflix, que narra a vida de Pablo Escobar e os narcotraficantes da Colômbia. Eu adorei a série e fui com muita empolgação para o livro, afinal, Narcos prende a nossa atenção em todos os capítulos e nos faz sentir mil coisas por Pablo Escobar, mas especialmente raiva.

A leitura não me decepcionou, Velásquez narra sua história de uma forma fácil de entender e que prende a atenção do leitor. É claro que alguns capítulos são mais envolventes que outros, confesso que no meio do livro me senti um pouco travada com a leitura, principalmente porque há muitos personagens na história, muitos homens de Pablo e outros traficantes, o que necessita de uma atenção extra para compreender pelo menos o básico. Como eu já havia assistido a série e sabia exatamente onde estava me metendo, não considerei o livro muito forte, porém, para quem não está familiarizado provavelmente será uma leitura bem impactante, afinal, Pablo e seus homens foram responsáveis por um verdadeiro banho de sangue.

Também vale salientar alguns pontos que divergem do livro para a série. É claro que a série conta com outros aspectos, além de ser baseado na história real, pois precisamos sentir o mínimo de afinidade por Pablo para não odiarmos e desligarmos o episódio logo de cara. Em Narcos, muitas passagens mostram um Escobar não tão desumano, poupando a vida de crianças, dando dinheiro para os pobres (na verdade sabemos que as intenções de Escobar são outras ao ajudá-los), enfim, temos um Pablo que era apenas mais um traficante antes de se tornar o chefão de todos. Porém, na leitura, logo no início, nos deparamos com um Pablo muito mais cruel: antes mesmo de se juntar à Ochoa e começar o império do Cartel de Medellín, já era conhecido nas ruas como assassino de aluguel e sequestrador, ou seja, alguém bem mais barra pesada do que o mostrado na série. Também notamos que em momento algum Pablo sente remorso pelos atos que cometeu para se tornar cada vez mais rico e poderoso. 

Outro ponto que diverge da série é a participação do filho de Escobar, Juan Escobar, que na série se mostra bem alheio às coisas que o pai faz, enquanto no livro descobrimos que ele inclusive o ajudou em algumas situações de sequestro.

Apesar de ser o braço direito de Pablo, o livro é totalmente voltado para a vida de Popeye. Ele nos conta suas histórias com os trabalhos que realizava, principalmente sequestros e assassinatos. Jhon não se envolvia com o tráfico, apenas fazia seus serviços para Pablo que, além de seu patrão, era também considerado um grande amigo. Popeye nos conta situações quase absurdas que eles passaram, narra uma verdadeira carnificina e guerra constante. Contudo, o ponto alto da leitura é a transformação que viveu ao longo dos anos de cárcere, exatos 23 anos e 3 meses. Ele simplesmente sai outra pessoa, alguém que, depois de tanto tempo, encontra a Deus e começa a entender a vida.

“E, do fundo do meu coração, quero expressar o meu mais profundo sentimento de gratidão a todas aquelas pessoas que me deram o seu perdão sincero e de coração, já que só assim poderemos iniciar a trajetória da paz e da reconciliação.” (p. 8)

O livro, contudo, é um tanto polêmico, uma vez que é difícil aceitar que após “apenas” 23 anos de prisão alguém já pagou tudo o que fez à sociedade. Mas vemos um lado muito humano de Velásquez, um período onde a solidão e o silêncio o forjaram na dor e no perdão, encontrando uma paz e uma proximidade com Deus que ele nunca havia encontrado antes.

A capa é super apropriada, gostei bastante do contraste do branco e preto com o vermelho. A revisão e a diagramação estão ótimas, no qual as letras proporcionam uma boa leitura. A obra é repleta de personagens, o que é extremamente necessário pois trata-se de uma história real, contudo exige muita atenção do leitor para lembrar quem é quem. Apesar do foco ser a vida de Popeye, também conhecemos muito da vida de Pablo, pois tudo o que Popeye fazia era a seu mando. Claro que isso não tira a sua culpa, mas nos mostra uma dimensão muito mais profunda da crueldade de Pablo. O livro é bem mais forte que a série, pois, após a leitura, percebemos que a série Narcos traz um Pablo romantizado, ou seja, não mostrando realmente o monstro que era. Contudo, o livro traz muitos detalhes da guerra travada entre a Colômbia e os narcotraficantes, mostrando uma amplitude bem maior das mortes e também um pedido de perdão, por parte de Popeye.

“Hoje, posso repetir com Santa Teresa D’Ávila: Nada te perturbe, nada te espante, tudo passa.” (p. 314)






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11 comentários:

  1. Não sou chegar a autobiografias! Mas fiquei curiosa pra conhecer um pouco mais da vida do traficante.
    Essa polêmica toda em volta da vida dele me chamou a atenção.
    E é muito bom saber que a leitura não te decepcionou.
    Quem sabe eu possa conferir a obra em breve.
    Beijos
    Caroline Garcia

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  2. Oi Amanda, assim que vi o titulo e a capa do livro da resenha logo pensei na série e tentei relacionar o nome Popeye a série e não consegui, se não me engano ele não aparece na série, o que torna a leitura até mais rica, pois tem uma nova perspectiva e as diferenças que você citou sobre a participação do filho de Pablo em algumas situações de sequestro e até mesmo a falta de remorso de Pablo são bem interessantes. A vida de Pablo não deve ser inspiradora, assim mesmo que sendo pouca a romantização da série é um pouco preocupante, mas acho legal podermos conhecer sobre a vida deste traficante que tem momentos bem revoltantes e imagino que esse livro vale a pena, sua resenha evidencia isso, curti muito ;)

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    1. Eles usam nomes fictícios, na série patrão do mal, o Popeye se chama marino.

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  3. A série sobre ele é incrível, imagino agora o livro! É bem interessante conhecer um pouco mais sobre personagens históricos (os bonzinhos e os nem tanto assim). Autobiografia não é o tipo que domina a minha estante mas sempre podemos dar uma chance para sair da zona de conforto!

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  4. Olá,
    A historia sobre ele é incrivel, são muitas coisas que ele passou na vida ao lado desse cara. Não é meu tipo de leitura porém são bem interessante como quisseram relar isso de uma maneira que entendessemos isso. A autobiografia não é meu estilo mas sei que seria uma boa maneira de conhecer mas a pessoa.

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  5. Oi Amanda,
    Apesar de não me simpatizar com autobiografia esse é um livro que chama muito a atenção. Não assisti a série Narcos, mas já vi vários comentários que dizem que a história do criminoso Pablo Escobar foi romantizada, então esse livro vem e traz a realidade nua e crua, mesmo que seja sob o ponto de vista de outra pessoa.
    Pelo jeito é uma leitura impactante mesmo, e como não estou acostumada com esse estilo por enquanto deixo passar esse livro.
    Parabéns pela resenha, esta bem elaborada.
    Beijos

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  6. Oi Amanda,
    Eu não tenho muito conhecimento sobre a história da vida de criminosos, mas acho um tema até bem interessante de se acompanhar. O mais curioso da trajetória de Popeye é ver sua transição de policial a criminoso, lados opostos da justiça e depois acompanhar sua mudança ao longo dos anos de prisão. Com certeza,ele é alguém que vivenciou de tudo um pouco na vida, do bem ao mal, da liberdade ao cárcere. Apesar de achar a história interessante não é um livro que tenho vontade de ler.

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  7. Olá Amanda, não costumo ler muitas biografias mas essa me chamou atenção, já vi algumas coisas relacionadas ao Pablo mas conhecer tão a fundo parece ser bem mais chocante, acredito que nesse caso assistir a série não vai interferir na experiência única do livro, e que por mais que não seja contada pelo próprio Pablo e sim pelo Popeye parece ser aquele tipo de leitura que vai te fazer rever alguns conceitos. Adorei a resenha.

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  8. Oi, Amanda!!
    Adorei conhecer o livro mesmo não gostando tanto assim da história do Pablo Escobar. Mas sempre fica aquela curiosa para descobrir mais sobre a vida dele!! Então sem dúvida quero muito descobrir os segredos desse homem!!
    bjoss
    Bjoss

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  9. Andreia!
    Estava acompanhando no canal fechado um série sobre a vida do Escobar e tem muita coisa verídica nesse livro, pelo menos é o que mostra na série que é baseada na vida dele.
    Ele é autoritário e teve mesmo esse caso com ela, agora no filme, a personalidade dele não é romantizada como Virgínia faz crer, aliás na série ela quase nem aparece tanto quanto a influência dela na vida dele merecia.
    Fato é que quero ler.
    Desejo um final de semana de luz e paz!
    “Quem já passou por essa vida e não viveu, pode ser mais, mas sabe menos do que eu...” (Vinicius de Moraes)
    Cheirinhos
    Rudy
    TOP COMENTARISTA DE JULHO 3 livros, 3 ganhadores, participem.
    http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/

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  10. Não costumo ler autobiografia e sei que ele é bem famoso, mas ainda assim eu não conheço muito sobre a vida dele. Não é muito o meu tipo de leitura, mas imagino que seja bem interessante pra quem gosta.

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